Portfólio 4 de Linguística: Funcionalismo (Nota obtida 8,0)
1ª No ensino tradicional de gramática, os alunos são avaliados em sua
capacidade de classificar vocábulos, termos e orações. Explique por que, às
vezes, é difícil fazer tais classificações, tendo em vista o que Givón diz
sobre a natureza das categorias linguísticas.
Um ponto fundamental da proposta do autor consiste em demonstrar que as
relações gramaticais não formam categorias discretas, sendo antes
caracterizadas por indeterminação e por gradação. Num certo sentido, as
propriedades que se apresentam como universais são variáveis tanto no interior
de uma língua como entre línguas. A gramática não pode ser entendida de forma
isolada, sem referência a parâmetros como cognição e comunicação, processamento
mental, interação social e cultura, mudança e variação, aquisição e evolução,
(Givón, 1995).
Exemplo: O céu cinzento indica chuva / O cinzento do céu indica chuva
Na primeira, cinzento é adjetivo; na segunda, substantivo. No segundo
exemplo, em vez de qualificar um substantivo, o adjetivo funciona gramaticalmente
como um substantivo cujo significado parte do significado do adjetivo.
2ª Para demonstrar as dificuldades para classificação
dos itens da língua, com base no que você aprendeu sobre o processo de
gramaticalização, compare o uso do verbo CHEGAR nas duas orações abaixo.
I.
O turista chegou da
praia.
II.
O turista andou
tanto, chega cansou.
Na frase I, o verbo expressa
situações pontuais e que denota movimento espacial, como chegou da praia.
Essa situação implica o término de uma outra situação que é durativa, isto é,
situações pontuais que são o término de uma situação durável. Observando as
ocorrências apresentadas, percebemos que do uso mais concreto (alguém chegar a
algum lugar) surgem usos mais abstratos via processo metafórico, como na frase
II em “... chega cansou”, nesse caso, o turista está falando em seu estado
físico, que de tanto andar assume o conteúdo lexical de “estar” que apenas
evoca a ideia de aproximar-se, uma das acepções mais comuns de chegar.
Leia o texto abaixo e
resolva as questões a seguir.
A canoa e o apego
Nasrudin estava na
margem de um rio e queria passar para o outro lado. A correnteza era muito
forte e seria impossível atravessá-lo a nado.
Foi quando Nasrudin viu uma pequena canoa presa na vegetação ribeirinha. Rapidamente colocou o bote n'água e pôs-se a remar para o outro lado. Com a ajuda da canoa, ele rapidamente atingiu a outra margem. Assim que botou os pés em terra firme, pegou a canoa, colocou-a nas costas e partiu em direção à floresta.
Algumas pessoas que haviam observado toda a cena ficaram espantadas com aquela atitude inesperada de Nasrudin. Elas foram e lhe perguntaram: "Por que você colocou a canoa nas costas? De que ela lhe servirá agora que você já atravessou o rio?"
Nasrudin então, já vermelho, suado e cansado do esforço em carregar a embarcação nas costas, lhes respondeu: "Essa canoa me ajudou muito a atravessar o rio. Eu não posso abandoná-la. Espero que agora ela me ajude também a atravessar a floresta."
Assim somos nós. Ficamos apegados ao passado e o transformamos em um pesado fardo em nossas vidas.
Foi quando Nasrudin viu uma pequena canoa presa na vegetação ribeirinha. Rapidamente colocou o bote n'água e pôs-se a remar para o outro lado. Com a ajuda da canoa, ele rapidamente atingiu a outra margem. Assim que botou os pés em terra firme, pegou a canoa, colocou-a nas costas e partiu em direção à floresta.
Algumas pessoas que haviam observado toda a cena ficaram espantadas com aquela atitude inesperada de Nasrudin. Elas foram e lhe perguntaram: "Por que você colocou a canoa nas costas? De que ela lhe servirá agora que você já atravessou o rio?"
Nasrudin então, já vermelho, suado e cansado do esforço em carregar a embarcação nas costas, lhes respondeu: "Essa canoa me ajudou muito a atravessar o rio. Eu não posso abandoná-la. Espero que agora ela me ajude também a atravessar a floresta."
Assim somos nós. Ficamos apegados ao passado e o transformamos em um pesado fardo em nossas vidas.
3. Considerando a
sequência de orações abaixo, comente o Princípio de Iconicidade que
se encontra nela ilustrado.
Assim que botou os pés em terra
firme, pegou a canoa, colocou-a
nas costas e partiu em direção à floresta.
É que os funcionalistas definem como a
correlação natural entre forma e função, ou seja, entre a expressão (código
linguístico) e seu conteúdo. “a iconicidade do código linguístico está sujeita
a pressões diacrônicas corrosivas tanto na forma quanto na função”. (CUNHA,
2009, p. 167.)
Exemplificando,
a iconicidade segue um padrão sequencial, pois percebemos que a frase segue um
sentindo. No Subprincípio da ordenação linear como nesse exemplo, ela refere-se
à ordenação dos elementos na sentença. Segundo esse princípio, a ordenação dos
elementos na oração tende a espelhar a sequência temporal em que os eventos
descritos ocorreram.
4. Analise a estrutura argumental das
orações da sequência e diga se a hipótese da Estrutura Argumental
Preferida (EAP) de Dubois se confirma ou não, quanto à realização do
sujeito. Justifique sua resposta.
Assim que botou os pés em terra
firme, pegou a
canoa, colocou-a nas
costas
A O O
e partiu em direção à floresta.
A
Em orações cujos verbos apresentam
argumentos, as restrições desfavorecem a introdução de informação nova
(veiculada lexicalmente) pelo argumento A (botou). Assim, a informação nova
deve ser introduzida, nessas orações, pelo argumento O (pegou). O constituinte
mais complexo (o que traz informação nova), portanto, geralmente se posiciona
no final da oração, uma vez que a posição do argumento O, no português
brasileiro, é após o verbo. No exemplo a informação nova (‘pegou’) é trazida
pelo argumento (colocou). O argumento O (colocou) é menos complexo por trazer
informação velha, codificada por meio de pronome. Por outro lado, observa-se
uma oração com argumentos novos como o uso de (partiu).
5. Analise e compare as duas variantes
de orações relativas abaixo com base no Princípio
de Marcação e tendo em
vista a utilização delas em textos de linguagem oral e coloquial, por pessoas
de pouca escolaridade.
I.
Rasputin carregava
nas costas a canoa de que ele poderia precisar na floresta.
II.
Rasputin carregava
nas costas a canoa que ele poderia precisar na floresta.
A
frase I é marcada, porque em seu contexto de fala informal, comumente o emprego
da preposição "de" não é utilizado. Tem menor frequência em contextos
coloquiais e maior complexidade. A oração II é não marcada, pois tem maior
frequência em contextos coloquiais e menor complexidade.
6. Compare a transitividade das orações
abaixo segundo os parâmetros propostos por Hopper e Thompson (1980).
A. A correnteza era muito forte...
B. Rapidamente colocou o bote n'água...
A
correnteza (um participante, não ação) era muito forte (afirmativa) apresenta baixa
transitividade em relação à frase B em que um participante transferiu as ações
para um outro participante (colocou o bote n’ água) acontecendo a cinese.
Referências:
Estrutura
argumental preferida: uma análise funcionalista dos padrões de uso dos
argumentos dos verbos em narrativas orais e em narrativas escritas.
Juliano Desiderato Antonio.
Disponível em: <
http://www.gel.org.br/estudoslinguisticos/edicoesanteriores/4publica-estudos-2007/sistema06/desiderato.PDF>.
Acesso em: 31/10/2018
A
relação da linguística interacional com o funcionalismo norte-americano Jair
Barbosa da Silva. Disponível em: < http://www.ufjf.br/revistagatilho/files/2010/12/Silva.pdf>.
Acesso em: 31/10/2018
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