2º Portfólio de História da Língua Portuguesa (Nota obtida: 10)
Atividade
de portfólio
1ª
“Que grafemas representavam as africadas do galego português?
Uma consoante
africada (fones nem totalmente oclusivos, nem totalmente fricativos),
corresponde primeiro ao bloqueamento completo do trato vocal, seguido de uma
pequena abertura que produz um ruído de fricção, como em [ts] ou [tʃ].
As consoantes
africadas não existem na norma-padrão do português europeu, mas ocorrem noutras
variantes, por exemplo, em dialetos portugueses setentrionais — chamar/[tʃɐmaɾ]
ou chave/[tʃavɨ] — e no português do Brasil, quando [i] se segue a [t] ou [d] —
p. ex., tia/[tʃia] e dia/[dƷia] —, ou como tch, por exemplo, em
Tchecoslováquia. Também são representadas pelas letras c, z e j, que por sua
vez, representavam as africadas [ts], [dz] e [dž].
Em galego-português
os grafemas que representavam as africadas eram: [tch] ch;
[dj] g (e,i); [ts]
ç, c(e,i); [dz] z.
2ª
Que evolução fonética (ou fonológica, em sentido amplo) as africadas sofreram
na evolução para o português moderno?
Os fones já citados acima
perderam o traço oclusivo e seus vozeamentos, tornando-se apenas fricativos,
passando a ser desta forma: [ch]; [j]; [s] e [z]. O desaparecimento dessas
africadas ocasionou certa confusão na nossa grafia, que persiste até os dias
atuais. Além das africadas [ts] e [dz], as apicoalveolares [ʂ] e [ʐ]. Mais tarde as africadas perderam o
elemento oclusivo ([t] ou [d]) e tornaram-se também fricativas, só que
predorsodentais [s] e [z]. Estes sons tomaram igualmente o lugar das
apicoalveolares no português-padrão moderno tanto no Brasil como em Portugal;
deste modo, letras ou sequências como s, -ss-, ç e c (esta última, antes de e
ou i) pronunciam-se todas da mesma maneira, com [s], uma fricativa
predorsodental surda; o mesmo acontece com -s- entre vogais e z, que correspondem
a [z], uma fricativa predorsodental sonora.
3ª Com base na resposta à questão 2,
responda: por que a nossa escrita é conservadora?
Nossa
escrita procura se manter intacta, pois diferente da fala que sofre diferentes
variações e modificações ela procura se preservar. Dessa maneira, é possível
ter um controle sobre a escrita, mantendo os padrões. Embora tenham ocorrido
essas alterações fonéticas na evolução histórica da língua portuguesa, a grafia
permaneceu a mesma. Os grupos iniciais pl, cl, fl são exemplos de formas que
forma conservadas sem modificação. Ex: pleno, clima, flauta.
4ªMostre as passagens intermediárias nas evoluções,
comentando-as:
a) corona
> coroa >corõ- a >coroa
b) freno >
freio > frẽ- o > freio
c) avena >
aveia >avẽ- a > aveia
d) lana >
lã >lã- a > lã
e) coelu >
céu >coe –l- u > coeu
> céu
f) palu >
pau >pa - l- u > pau
Observa-se
que nas palavras onde a vogal precede a letra n (itens a, b, c e d) houve uma
nasalização da mesma. Isso explica a queda do –n- intervocálico. Nos outros
itens, com a queda do –l- intervocálico houve a formação de hiatos: coeu e pau.
5ª Mostre que muitas palavras
conservam, em português, as consoantes intervocálicas –l- e –n-. Comente sobre
o contexto em que elas aparecem. Consulte bons dicionários e livros, como o de
Teyssier (2001) e Coutinho (1976).
Quando l ou n eram
seguidos de um yod, originário de i e e em hiato, estas consoantes passaram a
[lh] e [nh] palatais ou “molhados”; ex.: filium > port. filho, seniorem >
port. senhor, teneo > port. tenho.
A queda de -l-
intervocálico — Este fenômeno, provável resultado de uma pronúncia velar do l
intervocálico, ia ter consequências importantes. Ocorreu possivelmente em fins
do século X, ele incidiu sobre um grande número de palavras e contribuiu para
criar em galego-português vários grupos de vogais em hiato. ex.: salire >
sai, palatiu > paaço (hoje paço), calente > caente (hoje quente), dolore
> door (hoje dor), colore > coor (hoje cor), colubra > coobra (hoje
cobra), voluntade > voontade (hoje vontade), filu > fio, candela >
candea (hoje candeia), populu > poboo (hoje povo), periculu > perigoo
(hoje perigo), diabolu > diaboo (hoje diabo), nebula > névoa, etc. É a
queda do -l- intervocálico que explica a forma que possuem no plural as
palavras terminadas em -l- no singular: sol, plural soes, hoje sóis. Em grande
número de palavras de origem semi-erudita ou erudita, o -l- intervocálico
conservou-se; ex.: escola, astrologia. Em português moderno, os -l-
intervocálicos deste tipo são inumeráveis; ex.: palácio (ao lado de paço),
calor (ao lado de quente < calente) , alimento, cálice, guloso, volume,
violento, etc. A queda do -l- intervocálico produziu-se apenas em
galego-português. A queda do -l- intervocálico produziu-se apenas em galego-português.
A queda de -n- intervocálico — Este último
fenômeno produziu-se depois do precedente, no século XI, e provavelmente ainda
estava em curso no século XII, nas vésperas do aparecimento dos primeiros
textos escritos. É mais complexo que o anterior: por exemplo, na palavra corona
houve primeiro nasalização da vogal que precede o n, donde corõna; em seguida,
o n caiu e tivemos corõa, forma do galego-português (hoje coroa). Assim, todos
os n intervocálicos desapareceram depois de terem nasaliza do a vogal
precedente; ex.: vinu > vĩo, manu > mão, panatariu > pãadeiro, mĭnūtu
> mêudo, genesta > gêesta, semĭnare > semêar, arena > arêa, luna
> lũa, vicinu > vezĩo, lana > lãa, homĭnes > homêes, bonu > bõo,
etc. Em todas estas palavras a vogal nasal e a que veio a segui-la diretamente
depois da queda do n pertenciam a duas sílabas diferentes: pronunciava-se
corõ-a, vĩ-o, mã-o, pã-adeiro, mê-údo, gê-esta, semê-ar, arê-a, lũ-a, vezĩ-o,
lã-a, homê-es, bõ-o, etc. Veremos, posteriormente, como evoluíram em português
estes encontros vocálicos resultantes da sucessão de uma vogal nasal e de uma
vogal oral. Esta queda do n intervocálico, que iria ter consequências
importantes na fonética e na morfologia do português moderno, é igualmente um
fenômeno particular ao galego-português.
Referências:
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